O que é a Córnea?
A córnea é a extensão transparente da esclera (branco do olho), e constitui o principal componente óptico do olho. É uma estrutura avascular que é rodeada de fluídos, lágrimas na face anterior e humor aquoso na face posterior. É responsável por mais de ⅔ da refração do olho, e este poder refrativo alto vai depender da sua curvatura e índice de refração.
Têm a forma de um menisco elíptico com eixo horizontal (11 a 12,5mm) maior que o vertical (10 a 11,5mm).
Sua espessura aumenta do centro (0,52mm) em direção a periferia chegando a 0,7mm.
Anatomia Microscópica da Córnea
A córnea possui 5 camadas.
- Epitélio
- Membrana de Bowmam
- Estroma
- Membrana Descemet
- Endotélio
Epitélio
O epitélio é a camada mais externa da córnea, sendo formado por células com grande capacidade de regeneração e corresponde de 10 a 12% da espessura total dessa estrutura.
O epitélio corneano possui uma rede de fibras nervosa, que quando sofrem algum trauma e ficam expostas causam uma forte dor, sensação de corpo estranho e fotofobia.
É composto por três tipos de células, sendo elas as células superficiais, aladas e basais.
Tem por função:
- Proteção (resistência aos corpos estranhos como objetos voadores ou lentes de contato),
- Elasticidade (altamente elástica a danos significantes),
- Regeneração (através das células basais localizadas no epitélio corneano),
- Barreira aos fluídos,
- Barreira aos microorganismos,
- Estabilizador das lágrimas (através das microvilosidades).
Membrana de Bowmam
É a camada superficial e acelular ao estroma.
Não tem origem e nem função clara e também não se regenera.
Sendo assim, quando danificada desenvolve cicatriz devido a proliferação do epitélio.
A espessuara da Membrana de Bowmam corresponde à 2% do total da espessura da córnea.
Possui como característica, resistência a traumatismos e invasões de microorganismos ou de células tumorais.
Estroma
O estroma é a camada da córnea mais espessa e corresponde a cerca de 90% da espessura total corneana.
É composto por fibrilas de colágeno, proteoglicanos e fibroblastos modificados. O colágeno encontrado no estroma está altamente organizado formando lamelas em rede, que correm paralelas umas as outras e vão de limbo a limbo.
No estroma existe algo próximo a 2,4 milhões de fibroblastos (ceratócitos), e sua densidade se estima que é 30% superior no estroma anterior que no posterior. Sabe-se que participam na estabilidade das lamelas e têm um papel primordial na cicatrização depois da cirurgia refrativa corneal.
Membrana Descemet
A membrana Descemet representa cerca de 2 a 5% da espessura corneana e está composta por fibrilas de colágeno.
Quando essa membrana apresenta irregularidades fica conhecida como córnea gutata, que pode ocasionalmente afetar a saúde do endotélio produzindo a Distrofia endotelial de Fuchs. Quando acontece uma erosão do estroma, a membrana sofre uma profusão anterior e é conhecida como descematocele.
Endotélio
Consiste em uma única camada de células hexagonais, aproximadamente 1 a 2 % da espessura total da córnea. Tem papel fundamental na manutenção do equilíbiro hídrico da córnea, porém não se regenera.
O endotélio corneano possui grande sensibilidade a agentes físicos, químicos, diminuição de oxigênio e alterações do pH. Suas principais funções são habilidade de transportar nutrientes do humor aquoso e a manutenção de um estado de turgescência necessário para a transparência da córnea.
O número de células vai se reduzindo ao longo da vida por apoptose, e as células restantes reagem com deslizamento, se reagrupando e hipertrofiando, onde perdem a sua regularidade em tamanho e forma. Quando a densidade celular fica muito baixa, o endotélio não consegue manter a córnea transparente e ocorre edema.
Inervação da Córnea
A córnea recebe grande quantidade de terminações nervosas sensoriais provenientes do primeiro ramo do nervo trigêmio, que compõe dois plexos nervosos: um subepitelial e outro estromal. A córnea está ricamente inervada com nervos sensitivos. Estes derivam dos nervos ciliares, que são ramificações terminais da divisão oftálmica do 5º par craneal, os nervos entram na córnea pelas camadas estromais média e anterior e correm para frente em forma radial até o centro da córnea.
A córnea é um dos tecidos mais sensíveis do corpo e esta sensibilidade serve para protegê-la. Se calcula que tenha uma inervação sensitiva que é 300 vezes maior que a da pele e 80 a do tecido dentário. A concentração destas terminações é entre 20 e 40 vezes maior que a pulpa dental e entre 300 e 600 vezes maior que a pele, com maior densidade nos dois terços centrais da córnea.
Isto indicaria que a lesão sobre uma só célula epitelial seria suficiente para provocar a percepção dolorosa.
Os nervos corneais tem duas funções fundamentais:
- A primeira é de proteção mediante os reflexos produzidos em resposta a pressão a outros estímulos.
- A segunda consiste em que os nervos tem um papel trófico e sua diminuição ou perda de funcionalidade pode produzir ceratite Neuroparalítica;
Nutrição e Metabolismo da Córnea
Os nutrientes para a córnea provem do filme lacrimal, que fornece a maior parte do oxigênio, dos vasos sanguíneos límbicos e do humor aquoso, que fornecem glicose e aminoácidos. A córnea usa primariamente glicose e glicogênio para a produção de energia.
O epitélio corneal recebe oxigênio diretamente da atmosfera quando o olho está aberto, e esse oxigenio possui pressão parcial de 155 mmHg na lágrima; Quando as pálpebras estão fechadas a pressão parcial do oxigênio cai para 55 mmHg, o que é adequado para manter o metabolismo epitelial, apesar de ocorrer certo grau de edema durante o sono.
O endotélio e os ceratócitos do estroma profundo dependem do oxigênio proveniente do humor aquoso. O endotélio corneal possui como função primordial controlar a hidratação da córnea, fundamental para a manutenção da transparência estromal. Outra importante função do endotélio corneal é representada pelo controle da passagem de nutrientes do humor aquoso para a córnea.
O endotélio corneal encontra-se em permanente atividade metabólica, removendo o excesso de líquido estromal por intermédio de um sistema de bombas iônicas localizadas na membrana plasmática lateral das células endoteliais. Um dos sistemas de bomba tem seu controle baseado no equilíbrio iônico entre Na+/K+ (sódio e potássio) pela enzima adenosina-trifosfatase (ATPase). Dessa maneira, este sistema regula de maneira eficaz a quantidade de água remanescente no estroma, mantendo sua deturgescência.
Curiosidades
- Em 2013, pesquisadores britânicos da equipe do professor Harminder Dua descobriram uma nova camada na córnea, entre o estroma e a membrana Descemet, chamada de Dua. O professor afirma que essa nova camada têm um papel importante na resistência e impermeabilidade do ar. É uma camada bem fina com aproximadamente 15 micras, representando cerca de 2 a 3% da espessura corneana.
- Você percebeu que o endotélio parece uma colmeia de abelha?
- Você sabia que a córnea dos tubarões são as mais parecidas com as humanas? E sabia também, que já foi usada córnea de tubarão para cirurgias de recuperação de olhos humanos?
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Referências
Bowling, Brad; Kanski, oftalmología clínica: un enfoque sistemático. Octava edición. España, 2016.
ADLER: Fisiologia del ojo: aplicación clínica. 10. ed. Madrid, Espanha: Elsevier, 2004.
SALLUM, J,M. F, DANTAS, A, M. Embriologia, Genética e Malformações do Aparelho Visual – Col. Cbo – Série Oftalmologia Brasileira – 2014.
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